Cântico
das árvores
Quem
planta uma árvore enriquece
A
terra, mãe piedosa e boa:
E a
terra aos homens agradece,
A mãe
os filhos abençoa.
A
árvore, alçando o colo, cheio
De
seiva forte e de esplendor
Deixa
cair do verde seio,
A flor
e o fruto, a sombra e o amor.
Crescei,
crescei na grande festa
Da
luz, de aroma e da bondade,
Árvores,
glória da floresta!
Árvores
vida da cidade!
Crescei,
crescei sobre os caminhos,
Árvores
belas, maternais,
Dando
morada aos passarinhos,
Dando
alimento aos animais! – Olavo Bilac
“A boa literatura investiga a alma
humana e seus desejos mais recônditos.”-Raphael Montes
No Espelho
No espelho
enigma, inimaginável
Não. Nem. Mas
não me passo mais a limpo.
Vou de branco
Ou talvez de amarelo
Ocultando a chuvas e trovoadas
e só paro quando meu………..
calar a boca de todos.
As letras já me salvaram
do despenhadeiro"-A.Freitas
Belem do Para- Brasil
Canto
da minha terra
"Amo-te,
ó minha terra, por tudo o que me tens dado:
Pelo
azul do teu céu, pelas tuas árvores, pelo teu mar;
Pelas
estrelas do Cruzeiro que me deixam anestesiado,
Pelos
crepúsculos profundos que põem lágrimas no meu olhar;
Pelo
canto harmonioso dos teus pássaros, pelo cheiro
Das
tuas matas virgens, pelo mugido dos teus bois;
Pelos
raios do sol, do grande sol que eu vi primeiro…
Pelas
sombras das tuas noites, noites ermas que eu vi depois;
Pela
esmeralda líquida dos teus rios cristalinos,
Pela
pureza das tuas fontes, pelo brilho dos teus arrebóis;
Pelas
tuas igrejas que respiram pelos pulmões dos sinos,
Pelas
tuas casas lendárias onde amaram nossos avós;
Pelo
ouro que o lavrador arranca das tuas entranhas,
Pela
bênção que o poeta recebe do teu céu azul,
Pela
tristeza infinita, infinita das tuas montanhas,
Pelas
lendas que vêm do Norte, pelas glórias que vêm do Sul;
Pelo
teu trapo de bandeira que flâmula ao vento sereno,
Pelo
teu seio maternal onde a cabeça adormeci,
Sinto
a dor angustiada do teu coração pequeno
Para
conter a onda sonora que canta de amor por ti".- O. Mariano, Rio-1957
Original da PIB-Curitiba website.
Tratado Geral das Grandezas do ínfimo
A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei.
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo
e as nossas).
Por essa pequena sentença me lisonjearam
Fiquei emocionada.
Sou fraca para elogios.-Manoel de Barros
Historias na hora de dormir- 1883- Anton Ebert(Alemanha, 1883-18960
O
Paquete azul
Há uma vaga brisa.
Mas a minh’alma está com o que vejo menos.
Com o paquete azul que entra,
Porque ele está com a Distância, com a Manhã,
Com o sentido marítimo desta Hora,
Com a doçura dolorosa que sobe em mim como uma
náusea,
Como um começar a enjoar, mas no espírito.
Olho de longe o paquete, com uma grande
independência de alma,
E dentro de mim um volante começa a girar,
lentamente.
Os paquetes que entram de manhã na barra
Trazem aos meus olhos consigo
O mistério alegre e triste de quem chega e
parte.
Trazem memórias de cais afastados e doutros
momentos
Doutro modo da mesma humanidade noutros pontos.
Todo o atracar, todo o largar de navio,
É — sinto-o em mim como o meu sangue —
Inconscientemente simbólico, terrivelmente-Fernando Pessoa
Inseparável
“Voce me olha com
os olhos de amor
Voce entende a
minha dor
Voce nao me julga
ou critica
Sempre pensando
que eu sou maravilhosa
Voce nunca guarda
rancor
Ate parece que o seu
maior prazer
Eh estar sempre
cerca de mim
Voce escuta meus poemas, e estorias
Me seguindo por
todos os lados
Sendo a sombra do
meu amado
Nao importa, voce
eh meu amigo serio e bricando
Correndo e
caminhando pelos Grandes
Lagos”.-M.Teixeira de Araujo
Patrice Piard -Haiti
Engraxate Ofícios
Para
ganhar meu pão, basta que exista
um
ofício qualquer, seja qual for:
caldeireiro,
engraxate, motorista,
tecelão,
alfaiate ou ferrador.
Todo
trabalho é nobre quando honesto,
quando
não favorece a exploração
e não
provoca o mínimo protesto
de
outros que também têm seu ganha-pão.
Por
mais rude que for, não me intimida
nem
me causa aversão nenhum mister.
Porque
trabalho, não receio a vida
e
espero sempre o que de pior me vier.
Nem
todos os ofícios são amenos
como
os que para nós sonharam nossas mães …
Tudo
serei na vida, tudo; menos
mercenarios ou laçador de cães!- C.M.
Ameaçador de significações metafísicas
Que perturbam em mim quem eu fui…
Ah, todo o cais é uma saudade de pedra!
E quando o navio larga do cais
E se repara de repente que se abriu um espaço
Entre o cais e o navio,
Vem-me, não sei porquê, uma angústia recente,
Uma névoa de sentimentos de tristeza- Fernando Pessoa
Aniversário
No tempo em que festejavam o dia dos
meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava so, todos estavam la.
Na casa antiga, até eu fazer anos era
uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha,
estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos
meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não
perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente entre a família,
E de não ter as esperanças que os
outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não
sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida,
perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a
mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de
meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser
menino,
O que fui --- ai, meu Deus!, o que só
hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos
meus anos!
O que eu sou hoje é como a umidade no
corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que
me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a
casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo
como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos
meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse
tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar
ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem
tempo de manteiga nos labios!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez
que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com
melhores desenhos na louça,
com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces,
frutas o resto na sombra debaixo do alçado
As tias mais velhas e charmosas, tao
bondadosas, os primos diferentes, nao
tao juntos a mim, e tudo era por minha causa, No tempo em que festejavam o dia
dos meus anos...
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos. Duro. Somam-se
meus dias
Serei velho quando o for. Mais nada.
Magoado, de não ter trazido o passado
roubado na algibeira!...-Fernando Pessoa
“Que brilha ao sol das minhas angústias revoltadas
Como a primeira janela onde a madrugada late,
E me envolve com uma recordação duma outra pessoa
Que fosse misteriosamente minha,
E a saudade bate"-F.Pessoa
Aviso Aos Náufragos
Esta página, por exemplo,
não nasceu para ser lida.
Nasceu para ser pálida,
Ficando dentro da agua
um mero plágio da Ilíada,
alguma coisa que cala,
folha que volta pro galho,
muito depois de caída.
Nasceu para ser praia,
quem sabe Andrômeda,
Antártida, Atlantico, Pacifico ou
Mesmo Mediterraneo
Himalaia, sílaba sentida,
nasceu para ser última
a que não nasceu ainda.
Palavras trazidas de longe
pelas águas do Nilo,
um dia, esta pagina, papiro,
vai ter que ser traduzida,
para o símbolo, para o sânscrito,
para todos os dialetos da Índia,
vai ter que dizer bom-dia,
num chorro de alegria
ao que só se diz ao pé do ouvido,
vai ter que ser a brusca pedra
onde alguém deixou cair o vidro.
Não e assim que é a vida?-P. Leminsky
"Que bom amanha e feriado!"-M.T.A.
Invernáculo
Esta língua não é minha,
qualquer um percebe.
Quem sabe o que falo,
vai ver que só minto verdades.
Assim me falo, eu, mínima,
quem sabe, eu sinto, mal sabe.
Esta não é minha língua.
A língua que eu falo trava
uma canção longínqua,
a voz, além, nem palavra.
O dialeto que se usa
à margem esquerda da frase,
eis a fala que me lusa,
eu, meio, eu dentro, eu,
quase.-P. Leminsky
Razão de ser
Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonta.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
As lagartas se transforman em borboletas
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?-P.Leminsky
Compro um
barco cheio de vento
Compro um
barco cheio de vento
com velas cor
do firmamento
e uma bússola
que aponte sempre
para as luas
de Saturno.
Compro um
barco que conheça
caminhos
secretos de mares desconhecidos.
Um barco feito
de vento
onde caibam
todos os meus amigos.
Compro um
barco que saiba decifrar
os segredos
escondidos
no coração das
noites sem luar.- R.Murray, 1998
"Sempre que as águas da chuva
Levam a terra do chão,
O solo sofre um desgaste
Que chamamos de erosão"-
W.Nieble
O Arco-iris nos reconforta que Deus continua tendo fe na Humanidade-M.T.Araujo
ORA
DIREIS OUVIR PIPOCAS
Ouço os grãos
que rebentam
feito gente
sementes
germinadas
no alumínio
fundo escuro
da panela.
Flores brancas
súbitas
de perfume
quente
pelo fio
sinuoso
da fumaça.
Flores doces
salgadas
servidas na
hora
(não em buquês
mas em
punhados).
Flores
atômicas
nascidas do
fogo
numa explosão
sem haste –Francisco Azevedo
"Cada amanhecer nos traz paz e tranquilidade e a gratidão por mais uma benção"-M.T. de Araujo
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