sexta-feira, 13 de novembro de 2015

#14- Imagens de Livros e Leituras







Cântico das árvores


Quem planta uma árvore enriquece
A terra, mãe piedosa e boa:
E a terra aos homens agradece,
A mãe os filhos abençoa.

A árvore, alçando o colo, cheio
De seiva forte e de esplendor
Deixa cair do verde seio,
A flor e o fruto, a sombra e o amor.

Crescei, crescei na grande festa
Da luz, de aroma e da bondade,
Árvores, glória da floresta!
Árvores vida da cidade!

Crescei, crescei sobre os caminhos,
Árvores belas, maternais,
Dando morada aos passarinhos,
Dando alimento aos animais! – Olavo Bilac




A boa literatura investiga a alma humana e seus desejos mais recônditos.”-Raphael Montes












No Espelho

No espelho
enigma, inimaginável
Não. Nem. Mas
não me passo mais a limpo.
Vou de branco
Ou talvez de amarelo
Ocultando a chuvas e trovoadas
e só paro quando meu………..
calar a boca de todos.
As letras já me salvaram
do despenhadeiro"-A.Freitas



                           Belem do Para- Brasil

Canto da minha terra

"Amo-te, ó minha terra, por tudo o que me tens dado:
Pelo azul do teu céu, pelas tuas árvores, pelo teu mar;
Pelas estrelas do Cruzeiro que me deixam anestesiado,
Pelos crepúsculos profundos que põem lágrimas no meu olhar;

Pelo canto harmonioso dos teus pássaros, pelo cheiro
Das tuas matas virgens, pelo mugido dos teus bois;
Pelos raios do sol, do grande sol que eu vi primeiro…
Pelas sombras das tuas noites, noites ermas que eu vi depois;

Pela esmeralda líquida dos teus rios cristalinos,
Pela pureza das tuas fontes, pelo brilho dos teus arrebóis;
Pelas tuas igrejas que respiram pelos pulmões dos sinos,
Pelas tuas casas lendárias onde amaram nossos avós;

Pelo ouro que o lavrador arranca das tuas entranhas,
Pela bênção que o poeta recebe do teu céu azul,
Pela tristeza infinita, infinita das tuas montanhas,
Pelas lendas que vêm do Norte, pelas glórias que vêm do Sul;

Pelo teu trapo de bandeira que flâmula ao vento sereno,
Pelo teu seio maternal onde a cabeça adormeci,
Sinto a dor angustiada do teu coração pequeno
Para conter a onda sonora que canta de amor por ti".- O. Mariano, Rio-1957







Original da PIB-Curitiba website.


Tratado Geral das Grandezas do ínfimo
A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei.
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me lisonjearam
Fiquei emocionada.
Sou fraca para elogios.-Manoel de Barros


                                  Historias na hora de dormir- 1883- Anton Ebert(Alemanha, 1883-18960





O Paquete azul
Há uma vaga brisa.
Mas a minh’alma está com o que vejo menos.
Com o paquete azul que entra,
Porque ele está com a Distância, com a Manhã,
Com o sentido marítimo desta Hora,
Com a doçura dolorosa que sobe em mim como uma náusea,
Como um começar a enjoar, mas no espírito.
Olho de longe o paquete, com uma grande independência de alma,
E dentro de mim um volante começa a girar, lentamente.
Os paquetes que entram de manhã na barra
Trazem aos meus olhos consigo
O mistério alegre e triste de quem chega e parte.
Trazem memórias de cais afastados e doutros momentos
Doutro modo da mesma humanidade noutros pontos.
Todo o atracar, todo o largar de navio,
É — sinto-o em mim como o meu sangue —

Inconscientemente simbólico, terrivelmente-Fernando Pessoa



Inseparável

“Voce me olha com os olhos de amor
Voce entende a minha dor
Voce nao me julga ou critica
Sempre pensando que eu sou maravilhosa
Voce nunca guarda rancor
Ate parece que o seu maior prazer
Eh estar sempre cerca de mim
Voce escuta meus poemas, e estorias
Me seguindo por todos os lados
Sendo a sombra do meu amado
Nao importa, voce eh meu amigo serio e bricando
Correndo e caminhando  pelos Grandes Lagos”.-M.Teixeira de Araujo



                                         Patrice Piard -Haiti

 Engraxate     Ofícios
                                                      
Para ganhar meu pão, basta que exista
um ofício qualquer, seja qual for:
caldeireiro, engraxate, motorista,
tecelão, alfaiate ou ferrador.


Todo trabalho é nobre quando honesto,
quando não favorece a exploração
e não provoca o mínimo protesto
de outros que também têm seu ganha-pão.


Por mais rude que for, não me intimida
nem me causa aversão nenhum mister.
Porque trabalho, não receio a vida
e espero sempre o que de pior me vier.

Nem todos os ofícios são amenos
como os que para nós sonharam nossas mães …
Tudo serei na vida, tudo; menos
mercenarios  ou laçador de cães!- C.M.





Ameaçador de significações metafísicas
Que perturbam em mim quem eu fui…
Ah, todo o cais é uma saudade de pedra!
E quando o navio larga do cais
E se repara de repente que se abriu um espaço
Entre o cais e o navio,
Vem-me, não sei porquê, uma angústia recente,
Uma névoa de sentimentos de tristeza- Fernando Pessoa 







               Aniversário 

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava so,  todos estavam la.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui --- ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos  labios!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na louça,
com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado
As tias mais velhas e charmosas, tao bondadosas,  os primos diferentes, nao tao juntos a mim, e tudo era por minha causa, No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos. Duro. Somam-se meus dias
Serei velho quando o for.  Mais nada.
Magoado, de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...-Fernando Pessoa





“Que brilha ao sol das minhas angústias revoltadas
Como a primeira janela onde a madrugada late,
E me envolve com uma recordação duma outra pessoa
Que fosse misteriosamente minha,
                                                        E a saudade bate"-F.Pessoa

                           
Aviso Aos Náufragos
Esta página, por exemplo,
não nasceu para ser lida.
Nasceu para ser pálida,
Ficando dentro da agua
um mero plágio da Ilíada,
alguma coisa que cala,
folha que volta pro galho,
muito depois de caída.
Nasceu para ser praia,
quem sabe Andrômeda,
Antártida, Atlantico, Pacifico ou
Mesmo Mediterraneo
Himalaia, sílaba sentida,
nasceu para ser última
a que não nasceu ainda.
Palavras trazidas de longe
pelas águas do Nilo,
um dia, esta pagina, papiro,
vai ter que ser traduzida,
para o símbolo, para o sânscrito,
para todos os dialetos da Índia,
vai ter que dizer bom-dia,
num chorro de alegria
ao que só se diz ao pé do ouvido,
vai ter que ser a brusca pedra
onde alguém deixou cair o vidro.
Não e assim que é a vida?-P. Leminsky


                                                     "Que bom amanha e feriado!"-M.T.A.


Invernáculo
Esta língua não é minha,
qualquer um percebe.
Quem sabe o que falo,
vai ver que só minto verdades.
Assim me falo, eu, mínima,
quem sabe, eu sinto, mal sabe.
Esta não é minha língua.
A língua que eu falo trava
uma canção longínqua,
a voz, além, nem palavra.
O dialeto que se usa
à margem esquerda da frase,
eis a fala que me lusa,
eu, meio, eu dentro, eu, quase.-P. Leminsky




Razão de ser
Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonta.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
As lagartas se transforman em borboletas
Eu escrevo apenas.

Tem que ter por quê?-P.Leminsky

















Compro um barco cheio de vento
                                                                                               
Compro um barco cheio de vento
com velas cor do firmamento
e uma bússola que aponte sempre
para as luas de Saturno.

Compro um barco que conheça
caminhos secretos de mares desconhecidos.
Um barco feito de vento
onde caibam todos os meus amigos.

Compro um barco que saiba decifrar
os segredos escondidos
no coração das noites sem luar.- R.Murray, 1998












"Sempre que as águas da chuva
Levam a terra do chão,
O solo sofre um desgaste
Que chamamos de erosão"-
W.Nieble

O Arco-iris  nos  reconforta que Deus continua tendo fe na Humanidade-M.T.Araujo




ORA  DIREIS  OUVIR  PIPOCAS
  
Ouço os grãos que rebentam
feito gente
sementes germinadas
no alumínio
fundo escuro
da panela.

Flores brancas
súbitas
de perfume quente
pelo fio sinuoso
da fumaça.

Flores doces
salgadas
servidas na hora
(não em buquês
mas em punhados).

Flores atômicas
nascidas do fogo
numa explosão
sem haste –Francisco Azevedo


  "Cada amanhecer nos traz paz e tranquilidade e a gratidão por mais uma benção"-M.T. de Araujo

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